quinta-feira, 31 de março de 2011

Salvador.

             Ouvi primeiro o ruído de cascos pisando a grama, mas continuei deitado de bruços na esteira que havia estendido ao lado da barraca. Senti nitidamente o cheiro acre, muito próximo. Virei-me devagar, abri os olhos. O cavalo erguia-se interminável à minha frente. Em cima dele havia uma espingarda apontada para mim e atrás da espingarda um velhinho de chapéu de palha, que disse logo o seguinte:
            - Mãos ao alto!
            - Mãos ao alto?! – Apesar de confuso, não hesitei. Fiquei de pé em um pulo, levantando os braços. Ninguém sabe o que um velhinho armado é capaz. A espingarda fumaçava. Ele tinha acabado de praticar algum estrago.
            Seu olhar fulminando de raiva assustava. Senti medo ao pensar que, talvez, ele estivesse me matando mentalmente várias e várias vezes antes de praticar o ato real. Mas... Por quê?
            - Ótimo! Agora suba aqui no cavalo. Rápido! – Se movia tão rapidamente enquanto falava que o chapéu de palha mudava de lado o tempo inteiro, frouxo em sua cabeça. Direita, esquerda, direita, esquerda. Sua voz grosseira e irritada não combinava com aquela aparência de velho manso.
            Subi sem trocar mais nenhuma palavra. O cavalo galopou, não me levando ao chão novamente por sorte. A situação me perturbava.
            - O senhor pode dizer o que está acontecendo? – Pude ouvir minha voz sair abafada, trêmula.
            O velhinho desceu do cavalo, deitando de bruços na esteira que eu havia estendido ao lado da barraca. Sorriu. Percebi um sinal que ele fez ao cavalo e, em menos de alguns minutos, o cavalo corria rapidamente comigo segurando forte suas rédeas.
           Ouvi um tiro alto e olhei para trás. Ele ainda se encontrava no mesmo lugar, deitado de bruços na esteira. Mas, agora, suas costas estavam cobertas de sangue. 

Marina Ribeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário